segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A origem da expressão "amigo urso"

A expressão significa amigo falso e veio da fábula de La Fontaine - linda por sinal - em que um homem e um urso ficam amigos. Um dia o urso vê o homem dormindo com uma mosca pousada no nariz. Para espantá-la, o urso atira vigorosamente uma pedra que bate no meio da testa e o mata.


Trouxemos, além do significa da expressão, o poema que o fez surgir para que você não crie uma curiosidade acabando com outra. ;)


O Urso e o amador de Jardins - La Fontaine

Em um bosque solitário 
De funda mudez sombria, 
Por lei do destino vário 
Oculto, um urso vivia.


Podia perder, coitado, 
O juízo - vem dele a míngua 
Ao que se vê isolado 
Sem ter com quem dar à língua.


É muito bom o falar, 
O calar-se inda é melhor. 
Dos sistemas no abusar 
É que se encontra o pior.


Como no bosque recurso 
Pra conversar não achava, 
Aborreceu-se o nosso urso 
Da vida que ali levava.


E enquanto em melancolias 
Ia consumindo o alento, 
Não longe passava os dias 
Um velho em igual tormento.


O velho amava os jardins 
Que o capricho Flora esmalta: 
Belo emprego, mas dos ruins 
Quando um bom amigo falta.


E, cansado de viver, 
Com gente que muda nasce, 
Meteu-se a caminho, a ver 
Se achava com quem falasse.


Ora, quando o velho ia 
Saindo para a jornada, 
Do bosque o urso saía 
Levando a mesma fisgada.


Encontraram-se - era cedo - 
E o velho, como é de crer, 
Teve medo do urso grande medo 
Como teria qualquer.


Mas, por fim, julgando-o manso, 
Com ele simpatizou: 
"Queres jantar com descanso 
No meu lar?" Ele aceitou.


Comeram; d'alma no centro 
Nenhum receou perigos; 
E ficam portas a dentro 
Vivendo os dois como amigos.


O velho as flores regava, 
Com que muito se entretinha; 
O urso saía, caçava 
E abastecia a cozinha.


E tanto afeto exibia, 
Embora em maneiras toscas, 
Que, quando o velho dormia, 
Até lhe enxotava as moscas.


Mas um moscardo maldito 
Apareceu, tão ruim, 
Que o urso se viu aflito 
Pra conseguir o seu fim;


E, de raiva furioso, 
Agarra num matacão, 
E esborracha o teimoso... 
Sobre a tola do patrão!... 

A mil iguais fulanejos 
Lance a Parca a dura foice: 
Querem encher-nos de beijos, 
E o que dão, por fim, é coice!

Moral da fábula: "Um inimigo inteligente e menos perigoso que um amigo ignorante".

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